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Amanda Fontelles,17 anos,apaixonada por livros e biologia,crente,e louca pela Taylor Swift.Pronta para mostrar um blog diferente.E cheio de tudo que eu mais amo.

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29/01/2012

Texto : Eu nasci...


Eu nasci. E não em berço de ouro, foi de madeira mesmo. Se me planejaram ou não, pouco importa. O meu primeiro choro teve uma causa óbvia: a perda do cantinho onde eu estava. Era quente, acolhedor. Entrei num desespero que nem durou muito. Levaram-me para uma pessoa que iria mudar a minha vida. Alguém que desde a primeira vez que pôs os olhos em mim, pensou nas diversas formas de me fazer feliz. Nesse contato visual, eu passei a amá-la imediatamente. Olhei no rosto daquela mulher e obtive a imediata certeza de que ela cumpriria sua promessa, se esforçando ao máximo para me oferecer conforto. Carinhos, abraços. Tudo o que há de bom incluído no pacote. Então pude relaxar, porque sabia que estava em boas mãos.
Gastei um tempo da minha vida ficando dentro de um treco estranho, chamado incubadora. Pessoas estranhas passavam pra lá e pra cá, me observando atentamente. Eles sorriam, com a minha existência e com a minha boa saúde. Eles contemplavam a minha cara de joelho e parabenizavam minha mãe por ter me aturado durante nove meses.Naquela época, não possuía noção de nada, é claro. Porém, mesmo involuntariamente, fazia caras e bocas para os meus telespectadores através do vidro dessa sala cheia de recém nascidos como eu. Meu público adorava, simplesmente se empolgavam com a cena que estavam assistindo. Eu era o bebê mais bonito do mundo para todos que me conheciam, que me esperavam. Não existiacoisinha mais linda. E lembrar isso me deixa… Até que feliz, sabe.
Quando finalmente saí de lá, encontrei um ambiente aconchegante. Um quarto só pra mim, com as coisas mais necessárias. Brinquedos engraçados em cima do meu berço, paredes pintadas de uma cor, digamos que, fofa… E de repente não era só uma pessoa que fazia parte da minha vida. Apareceu outro humano que também parecia me amar pra caramba. Logo entendi, era o meu pai. Ele também acordava de noite e aturava cada pirraça que eu fazia. Tanto papai como mamãe padeceram no cansaço por minha causa. Para que eu tivesse todas as minhas necessidades devidamente supridas e atendidas. Para que no futuro eu me tornasse satisfeita. Imensamente feliz, de certo modo. Me mimaram muito, confesso. Eu era escrava do leite que saia da minha mãe e muito carente das brincadeiras que papai fazia comigo. Me jogava no ar enquanto eu tinha duas reações: a alegria por estar quase voando e o medo de cair.  Mas eles fizeram um bom trabalho durante essa fase, muito bom.
Foram muitas fraldas gastas, viu. Vestuário, brinquedos para morder e quebrar. Conforme eu ia crescendo, tinha chegado a hora de me fazer falar. De me fazer andar, porque eu engatinhava pela casa toda. Consegui, com a ajuda deles. Era uma tremenda confusão. Vivia chorando pelo nascimento dos meus dentes, completamente assustada com as mudanças rapidíssimas que estavam ocorrendo. Um minuto sozinha e já abria um berreiro de dar dor nos ouvidos. Carência, pura carência. Vontade de ser o centro das atenções o tempo todo, eu acho.
Quando já caminhava com meus próprios pés, andava pra lá e pra cá. E quando conheci finalmente o modo certo de me comunicar com eles, tagarelava sem parar. Não fechava a matraca, mesmo atropelando algumas sílabas. Tá, não era hiperativa ou completamente trabalhosa. Gostava de companhia, de mexer ou morder qualquer coisa que via pela frente. Isso me leva a uma nova etapa, que me mudaria como pessoa: a escola.
Entrei num colégio sem saber nada da sua função. Fiz escândalo no primeiro dia pra voltar pra casa, assustada… Afinal, aquele lugar pra mim era completamente desconhecido. O meu medo nem durou muito. Me deparei com vários pequeninos da minha idade. Nós desenhávamos paisagens mal feitas, bonequinhos de palito e mexíamos com massinha. A professora era um doce, sempre aturando nossas crises e as vezes em que fazíamos xixi nas calças. A professora havia se tornado nosso anjinho protetor, separando umas brigas bobas, dando conselhos estranhos, ensinando consoantes e vogais, mostrando os números para que futuramente pudéssemos fazer contas… Cumpria seu papel direitinho, sem nunca tirar aquele sorriso do rosto.
Finalmente, na faixa dos cinco anos de idade aprendi a ler e escrever quase que perfeitamente. Falava paralelepípedo sem dificuldade alguma e sabia que dois mais dois resultava no número quatro. Sem grandes dificuldades, fui avançando e me dei conta de que o mundo não se resumia ao conhecimento de letras e números. Entrava então a Geografia, a História. Duas aliadas que nos transmitem cultura e localização. Pra conhecer o corpo humano, chegou minha querida Ciências. Até hoje, nunca soube discernir o coração e a razão, mas pelo menos compreendi o que cada órgão fazia em meu corpo. Suas funções, localidades… Seus pontos fracos. E pra complementar, me divertia com as atividades físicas e a tal da Artes. Eu gostava da escola, sentia facilidade em quase tudo. Eu era plena e satisfeita com a minha vida. Até que… Cresci mais.
E tudo dificultou.
Poxa vida. Já não era mais tão simples estudar. E meus pais estavam me incentivando a caminhar sozinha, sem fazer eles de apoio. O desencanto de viver apareceu. Olhava pros lados e não reparava mais nas flores e sim nos espinhos da vida. Os reais problemas começaram a surgir. Eu me apaixonei, mesmo tão novinha. Deve ser porque dentro do meu peito cabia tanto sentimento que isso aconteceu de forma precoce. Eu me entreguei de corpo e alma – uma alma tão frágil que não sabia se preservar – e me destruí. Repuxei minha pele perfeita e criei feridas pungentes que se tornaram brutas cicatrizes. Hormônios, crises de existência passaram a me definir. Brigas e mais brigas, a falta da aceitação do que eu havia me tornado. A estranha adolescência, muito aguardada… De boa não tinha nada. Foi muito rápido. Eu tento relembrar cada momentinho, o exato momento em que as horas não andavam e nem corriam. Elas voavam. Após a minha infância, os anos não pareciam mais compostos por trezentos e sessenta cinco dias.  No máximo cem, e olhe lá. Quanta desilusão e saudade. Quanta mudança e apodrecimento. Congelaram meu armazenamento de planos, destruíram minha exposição de sonhos. E agora não sei mais o que esperar dessa próxima fase da vida em que me nomearei como uma humana adulta. Não adianta cruzar os dedos, embarcar em superstições, fazer simpatias ou criar mantras para que tudo dê certo. Sou apenas uma poeirinha comandada pelo vento. E esse vento vai fazer de mim o que quiser. Vai me encaminhar pra alguma direção. Não sei se sigo pro sucesso ou pro fracasso. Mas sei que continuo de olhos bem abertos. Pois apesar do meu futuro pertencer ao destino, sou eu quem vai dar os primeiros passos.Sozinha.” 


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